A Revolução Russa

16/07/2017

1. Antecedentes

Antes de se falar da revolução, primeiramente, devemos ter consciência dos fatos ocorridos anteriormente que desencadearam o que veio a ocorrer em 1917. Acontecimento que veio como resultado de outros acontecimentos, de vários fatores que o tornam o que é tal como a dialética de Marx, essas teses e antíteses são o que formaram a síntese que foi a revolução


Até Fevereiro de 1917 a Rússia, até então chamado de Império Russo, era uma monarquia absolutista, viviam em um sistema semifeudal, havia produção industrial, mas que era uma minoria em comparação com a produção agrícola, que era maioria dentro da Rússia. Os trabalhadores não tinham seus direitos trabalhistas, havia fome e miséria. Foi neste cenário começaram a surgir os partidos de oposição ao governo.

Dentre esses partidos oposicionistas destacaram-se o POSDR (Partido Operário Social Democrata Russo) fundado em 1898 - que em 1903 cismaram, ficando assim divididos entre Bolcheviques e Mencheviques, e o motivo da cisão foi a divergência dentro do partido, uma ala (os bolcheviques) defendia uma mudança radical de política para o povo, defendendo uma revolução socialista armada, caso necessário. Enquanto outra (os mencheviques) defendia uma revolução moderada, permitindo primeiro a democracia e o pleno desenvolvimento do capitalismo para só depois implantar o socialismo -, Os SRs (Socialistas Revolucionários) fundado em 1902, dentro dos partidos de esquerda são esses os de maior destaque, pois havia também os partidos considerados como direita, que era o caso dos Kadets que eram do Partido Constitucional Democrata, de ideologia liberal. Partidos esses que sofriam perseguição política, e que, portanto, funcionavam na clandestinidade.

1.1 O Domingo Sangrento e a Revolução de 1905

O domingo sangrento foi um movimento espontâneo e aparentemente sem um líder ou partido político específico, sem uma ideologia determinada - Ocorrera durante a Guerra Russo- Japonesa (1904-1905), guerra de caráter imperialista que foi causada pela disputa entre o Império Russo e o Império do Japão pelos territórios situados na Coreia e na Manchúria. Os combates ocorreram no nordeste asiático.

Foi no dia 9 de janeiro de 1905, na cidade de São Petersburgo, Rússia, o dia que ficou conhecido como Domingo Sangrento. Na ocasião, milhares de pessoas que estavam nas imediações do Palácio de Inverno - residência dos czares -, determinadas a entregarem ao Czar Nicolau II uma petição que reivindicava melhorias das condições de trabalho nas fábricas da cidade. As tropas do império atiraram contra os manifestantes, assassinando mais de mil pessoas. (GOMES, 1999, p.22)

Após o ocorrido iniciou-se a revolução de 1905. O Domingo Sangrento fez com que a revolta dos trabalhadores russos se espalhasse tanto no campo quanto nas cidades. Greves, motins e manifestações reuniam milhares de pessoas. Nesse meio tempo, a oposição ao czarismo passou a atuar com as massas, buscando coordená-las. A pressão popular, além de reivindicar melhores condições de trabalho, reformas econômicas e o fim dos privilégios da estrutura absolutista, também tinha em vista a reforma política da Rússia. Após o fim da guerra Russo-Japonesa - a qual terminou com um tratado de paz entre o Império Russo e o Império do Japão, o Tratado de Portsmouth, assinado no dia 5 de Setembro de 1905 -, Nicolau II, em outubro de 1905, concordou em promover certa abertura política, permitindo a criação da Duma, isto é, um parlamento nacional. A Duma foi inicialmente pensada para ser um órgão consultivo.

1.2 A Rússia na Primeira Guerra Mundial

Em 1914 iniciara a Primeira Guerra Mundial, na qual o Império Russo lutou ao lado da Tríplice Entente, mas não possuía os recursos necessários para manter o seu exército no combate. Por falta de armas, munições, e mantimentos, muitos soldados não podiam combater, pois além da fome, faltava-lhes munição. 

Durante todo o período de guerra, ocorreram muitas greves. Em 1915, elas começam a se multiplicar. A situação no abastecimento era desesperadora. As greves nas cidades repercutem nas trincheiras, assim como cada tragédia nas trincheiras repercute nas cidades. Em 1917, a crise nas trincheiras e a crise nas cidades se entremeiam. (GONZÁLEZ, 1989)

2. A Revolução de Fevereiro

Em janeiro de 1917, já se registram, na cidade, saques aos locais de abastecimento. No palácio se conspira. Generais, banqueiros, diplomatas ingleses e franceses, jovens príncipes preocupados, pensam na possibilidade - remota - de depor o czar para reorganizar o Estado e conter o descontentamento popular. (GONZÁLEZ, 1989)

Em fevereiro, depois de muitos dias de protestos nas ruas, os regimentos sediados perto de Petrogrado foram amotinados, o czar já não tinha mais o mesmo poder que anteriormente possuía. Petrogrado já estava sob o domínio dos insurretos. No dia 27 de fevereiro, soldados e trabalhadores invadiram o Palácio Tauride, onde a Duma se reunia. Durante a tarde, formaram-se dois comitês provisórios em salões diferentes do palácio. Um formado por deputados moderados da Duma, se tornaria o Governo Provisório. O outro era o Soviete de Petrogrado, formado por trabalhadores, soldados e militantes socialistas de várias correntes.

Temendo uma repetição do Domingo Sangrento, o Grão-Duque Mikhail Alexandrovich ordenou que as tropas leais no Palácio de Inverno não se opusessem à insurreição e se retirassem. Em dois de Março, cercado por amotinados, Nicolau II assinou sua abdicação. Após a derrubada do czar, instalou-se o Governo Provisório, comandado pelo príncipe Georgy Lvov, um latifundiário, e tendo Alexander Kerenski como Ministro da Guerra. Era um governo de caráter liberal burguês, comprometido com a manutenção da propriedade privada e interessado em manter a participação russa na Primeira Guerra Mundial. Enquanto isso, o Soviete de Petrogrado reivindicava para si a legitimidade para governar. Já em primeiro de Março, o Soviete ordenava ao exército que lhe obedecesse, em vez de obedecer ao Governo Provisório. O Soviete queria dar terra aos camponeses, um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos democraticamente, e o fim da guerra, objetivos diferentes do que os almejados pelo Governo Provisório.

Após a Revolução de Fevereiro, as autoridades alemãs permitiram que Lenin e seus auxiliares diretos atravessassem a Alemanha a caminho da Suíça para a Suécia em um vagão férreo blindado. Berlim esperava que o retorno dos socialistas que eram contra a guerra à Rússia solapasse o esforço de guerra russo, que prosseguia sob a administração do governo provisório. Lenin conclamava pela derrubada do governo de Kerenski pelos sovietes, sendo por isso acusado de agente alemão pelos dirigentes governamentais.

3. O Governo Provisório

O Governo Provisório se formou após a abdicação do Czar. Era um governo de caráter liberal. Deveria governar até a Assembleia Constituinte Russa determinar posteriormente a forma de governo. O Governo Provisório, primeiro chefiado pelo príncipe Lvov e depois pelo menchevique Alexander Kerenski, não conseguiu atender às principais reivindicações do povo russo, expressa no slogan  Paz e Terra e que significava a saída do país da I Guerra Mundial e a distribuição de terras aos camponeses.

Como as principais forças do Governo Provisório eram ligadas ao exército, aos latifundiários e à burguesia, não havia interesse em sair da guerra e nem de distribuir as terras.

Os sovietes (conselho, em russo) era o órgão criado pelos trabalhadores e soldados russos durante a Revolução de 1905 e que fora derrotada. Neste órgão, os trabalhadores exerciam um poder ao mesmo tempo executivo e legislativo, elegendo seus representantes a partir dos locais de trabalho e quartéis. Em fevereiro de 1917, os sovietes surgiram novamente, agora aceitando a participação de deputados e de camponeses, principalmente pelo fato de os trabalhadores e soldados serem do campo.

Através de uma participação mais direta e de controle pela base das ações dos deputados, os sovietes se converteram no órgão de luta autônoma destes três setores da sociedade e em sair da guerra e nem de distribuir as terras.

3.1 As Jornadas de Julho

O amplo descontentamento popular com as ações do Governo Provisório e o desejo de que os sovietes tomassem o poder e aplicassem as reformas pedidas pelos trabalhadores levaram a população russa à revolta. Começaram-se então manifestações. 

As manifestações se sucederam ao longo de três dias em que os manifestantes, liderados por socialistas revolucionários de esquerda, anarquistas e bolcheviques, exigiam que o Soviete de Petrogrado tomasse o poder do Governo Provisório para aplicar um programa radical de reformas. A rejeição dos mencheviques - que então lideravam o soviete - em aceitar tal exigência e a falta de uma direção política alternativa fez com que os protestos fracassassem. A falta de apoio às manifestações nas províncias e entre os dirigentes do soviete da capital, bem como o apoio de algumas unidades militares de Petrogrado aos dirigentes do soviete após acusações de que Lênin seria conivente com os alemães, permitiu ao soviete pôr um fim nos protestos e que retomasse o controle na capital. Depois disso Lenin viu-se obrigado a fugir para a Finlândia. Porém seu lema paz, terra e pão passa a ter um crescente apoio popular e os bolcheviques passam a ter maioria no soviete de Petrogrado.

3.2 O Golpe de Kornilov

Em meados de agosto, o comandante-em-chefe do exército russo - o qual havia ocupado este posto por nomeação de Kerenski -, o General Lavr Kornilov apresentou um plano de reforma equivalente ao estabelecimento de uma ditadura militar, mas Kerenski recusou apesar do apoio do vice-ministro da Defesa, o socialista revolucionário Boris Savinkov. Kornilov preferia implementar as suas medidas com a colaboração do governo, mas estava disposto a fazê-lo mesmo com a oposição deste; Kerenski queria lidar com isso a partir de uma posição reforçada pela Conferência Estadual de Moscou, mas não conseguiu devido à crescente polarização política.

No final de agosto e início de setembro parecia que Kerenski e Kornilov chegariam a um acordo para implementar as reformas políticas e militares, porém a confusa intervenção de Vladimir Lvov, confundiu ambos: Kornilov acreditava que Kerenski havia aceitado plenamente seus planos e este que Kornilov lhe apresentou um ultimato e pretendia removê-lo do poder. Forçou, então, a rebelião aberta do general para destitui-lo e a marcha na capital resultou em um fracasso, desbaratada pela resistência não tanto do governo impotente e dos conselhos, mas, especialmente, dos bolcheviques, que se recuperariam politicamente do revés sofrido durante as Jornadas de Julho. O golpe fracassado aumentou o desprestígio e a debilidade de Kerenski, desacreditou a direita e acelerou os preparativos para a insurreição dos bolcheviques.

4. A Revolução Bolchevique

No começo de outubro, Lenin regressa secretamente a Petrogrado, também por aquele mês Kerenski ordenou a prisão de Lenin. Ele se refugiou no bastião de Viborg, saia à rua disfarçado, afim de não ser reconhecido.

O Comitê Militar do soviete, em 22 de outubro declara-se o único responsável pelas ordens militares referentes à guarnição de Petrogrado. Por sua vez, Kerenski contra-ataca: no dia 24 de outubro manda fechar o jornal Soldat, dos bolcheviques. O Comitê Militar retoma então a sede da gráfica que imprime o jornal. É o prelúdio da batalha final. A Revolução de Outubro se fez cultuando todas as formas da escrita e do jornalismo de combate. (GONZÁLEZ, 1989)

De um lado, a imprensa monárquica preconizava sangrenta repressão. Do outro, a poderosa voz de Lênin rugia: Insurreição! Nem um minuto de espera! Insurreição! A própria imprensa burguesa estava inquieta. O jornal Birjevia Viedomosti (Informações da Bolsa) atacava a propaganda bolchevique, qualificando-a de um atentado contra "os mais elementares princípios da sociedade, dos direitos individuais e da propriedade privada". Mas os ataques mais violentos contra os bolcheviques partiam dos jornais socialistas moderados. "Os bolcheviques são os mais perigosos inimigos da revolução", dizia o Dielo Navoda. O jornal menchevique Dien escrevia: "É necessário que o governo se defenda e nos defenda". O jornal de Plecanov, o Iedinstvo (Unidade), afirmava que os bolcheviques estavam armando os operários de Petrogrado, reclamando, ao mesmo tempo, severas medidas governamentais contra eles. Mas o governo tornava-se cada dia mais impotente. A administração municipal caía aos pedaços. Os matutinos diariamente anunciavam assassinatos e assaltos audaciosos. Os criminosos podiam agir à vontade. Os operários resolveram manter a ordem. À noite, saíam aos grupos, armados, patrulhando as ruas, prendendo os ladrões e apreendendo as armas que encontravam. (REED, 2002, p. 87)

Na madrugada do dia 25 de outubro, os bolcheviques, com a ajuda de anarquistas e Socialistas Revolucionários de Esquerda, cercaram Petrogrado, onde estavam sediados o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado. Estava começada a revolução.

Na manhã de 25 de outubro, as pontes sobre o Rio Neva, a estação telefônica central, o telegrafo, a Agência Telegráfica de Petrogrado, a estação de rádio, as estações ferroviárias, as centrais elétricas, o Banco do Estado e outras importante instituições tinham sido ocupadas pelos guardas vermelhos, pelos marinheiros e pelos soldados. (GOMES, 1999)

Por volta das dez horas da noite, um estouro vindo do encouraçado Aurora alertava os bolcheviques para que invadissem o Palácio de Inverno, onde se refugiara o Governo Provisório, e alguns edifícios do Estado Maior das Forças Armadas. No dia 25 e 26 de outubro a insurreição já havia triunfado.

John Reed relata uma das notícias que leu na manhã após a revolução:

Comprei um número do Rabotchi Put, único jornal que estava à venda. Pouco depois, um soldado cedeu-me, por 50 copeques, o seu número do Dien. O órgão dos bolcheviques, em grande formato, fora impresso nas oficinas do Russcaia Volia, jornal reacionário. No alto, o Dien trazia em letras garrafais os seguintes dizeres: "Todo o poder aos sovietes de operários, soldados e camponeses! Paz, pão e terra!" O artigo era assinado por Zinoviev, companheiro de esconderijo de Lênin. Começava assim: 

"Todo operário, todo soldado, todo verdadeiro socialista, todo democrata sincero e honesto compreende que a situação atual nos colocou perante um dilema: ou o poder continuará nas mãos da camarilha de burgueses e grandes proprietários de terra, e, nesse caso, os operários, os soldados e os camponeses só poderão esperar do governo as mais terríveis perseguições e repressões, a continuação da guerra, a fome e a morte, ou o poder passará às mãos dos operários, dos soldados e dos camponeses revolucionários, e, assim, a tirania dos grandes proprietários de terras será para sempre abolida, os capitalistas serão rapidamente aniquilados e o novo governo cuidará logo de propor as condições para a assinatura de uma paz verdadeiramente justa. Deste modo, os camponeses terão garantida a posse da terra, e os operários, o controle da indústria; os famintos terão pão, e a criminosa e estúpida carnificina terminará". (REED, 2002, p. 119)

Os Bolcheviques haviam tomado o poder, Kerenski havia fugido, mas não governariam facilmente a Rússia, pois contra eles haviam os Liberais, Mencheviques, Monarquistas, e tantos outros que fizeram diversas sabotagens, e que depois acabou iniciando uma dura guerra civil - que será explicado num futuro post. A construção de uma nação socialista da qual aspiravam aos bolcheviques constituiu-se um trabalho duro, muito difícil, do qual a Rússia colhe dos frutos até os dias atuais.


Fontes:

GONZÁLEZ, Horácio. A Revolução Russa. São Paulo: Editora Moderna, 1989.

GOMES, Oziel. Lenin e a Revolução Russa. São Paulo: Expressão Popular, 1999.

REED, John. 10 Dias que Abalaram o Mundo. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Russo-Japonesa 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Russa_de_1917 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Portsmouth 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial 


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